Projeto de Camilo Soares nos coloca em diálogo com a cidade a partir de fotografias de caixas de correio. O evento será uma atualização da exposição na Torre Malakoff, no mês passado, com novas fotografias das intervenções no Recife feitas durante a mostra e com a exposição de todas as Santa Caixas que circularam pelo Recife. Outra novidade é que as fotografias e os objetos estarão à venda. O fotógrafo está partindo para fazer doutorado em Paris e a venda das obras se destinará a financiar seus estudos.
As caixas de correio de Marselha despertaram a
atenção de Camilo Soares durante a residência na França. De lá até o centro do
Recife, um caminho de reflexões e ressignificações precisou ser traçado. São
rastros desse caminho, percorrido com a colaboração de dezenas de pessoas, que
compõem a exposição #1cartaparamarselha, no Espaço Peligro, na quinta-feira 29 de agosto.
Fotografias
Diante das mudanças ocorridas nas duas últimas
décadas, com a migração dos esforços de comunicação para o correio eletrônico
e, em seguida, para as redes sociais, o que acontece com as caixas de correios
em todo o mundo? Perdem a função de ligar pessoas, recebendo apenas documentos
bancários ou comerciais. Esses objetos esquecidos que integram as fachadas do
centro antigo de Marselha despertaram a memória poética de Camilo Soares,
gerando relações entre as duas cidades portuárias. Registrou a diversidade das
caixas, sua deterioração, mas também a sua ressignificação a partir da
intervenção de artistas, pichadores, ou simplesmente do tempo sobre elas.
Ao serem aplicadas nas paredes do centro do Recife,
coladas como cartazes de lambe-lambe, tais imagens se oferecem não apenas a
outras intervenções, mas ao olhar distraído de quem passa. Como diz Camilo:
“Acho que perdemos bastante a relação afetiva com a cidade, que virou apenas
coisa concreta e funcional para nossos olhos e isso explica um pouco porque é
tão mal cuidada por todos. Além de remeter a tal perda de comunicação, essas
fotografias de caixas de correios também podem instigar algum interesse ou
inquietação dos que por ali passarem. Pode talvez contribuir um pouco para que
o Recife volte ao estado de imagem, a partir de interpretações íntimas, códigos
próprios e memória”.
Santa Caixa
Seguindo a provocação "Diga algo que você nunca
disse para alguém que você ainda não conhece”, pequenas caixas de correio
ilustradas pelas fotografias de Marselha circularam pelo Recife. Foram cinco Santa
Caixas circulando pelo Recife, seguindo a tradição das santas de bairro que
pernoitavam de casa em casa, em suas vigílias. “Morava num bairro popular e via
isso. Não sei se hoje isso ainda é possível, pois todos se trancaram em suas
casas e estão perdendo o sentimento de vizinhança”, indaga Camilo. Aqui
novamente entramos ao interior, no íntimo, num diálogo que permanece sendo um monólogo,
pois o interlocutor ainda não existe, apesar de potencialmente existir em cada
esquina. Uma grande replica que recebeu as cartas dos visitantes da exposição
na Torre Malakoff também será exposta.
Filme
Intervenções em diferentes técnicas já foram feitas
por Jeims Duarte, Marie Carangi, Marcelo Silveira, Rinaldo Silva, Iezu Kaeru,
Giu Calife, Christina Machado e Paulo Meira e Sérgio Altenkirch. Como um
palimpsesto, as imagens vão ganhando novas camadas e olhares. Tais ações se
tornarão o filme cartaprorecife que
será exibido na exposição. Fotos dessas e de outras intervenções, assim como o
seu mapeamento, poderão ser vistas no blog do projeto (1cartapara.blogspot.com.br). Levar a exposição para Marselha também está nos
planos.
Exposição
#1cartaparamarselha
Local:
Espaço Peligro
Rua
Ada Vieira, 112, Casa Forte, Recife (Rua do La Plage)
(81) 8738-8008
Data:
29 de agosto de 2013
Horário:
18h